Dolce Vita | domingo, 8 de agosto de 2021

Lindo motivo para aplaudirmos a vida, Laís Lima. Foto: Sayara Sophia

Beleza Roubada

Para nossa coleção dominical de lindos textos falsos, logo, anônimos, hoje, um que há anos circula, como se fosse do colombiano e Prêmio Nobel de Literatura, Gabriel García Márquez autor imortal do eterno e infinito “Cem Anos de Solidão”. O título é “Um Gênio se Despede”, mas mesmo quem conhece um mínimo de Gabriel, sabe que não é dele, muito “bonitinho”, água com açúcar e religioso.

Beleza emprestada

No mais, o próprio Gabriel García Márquez desmentiu a autoria. O texto não é do grande Gabriel, mas foi escrito por alguém que, realmente, percebeu o valor da vida, principalmente em seu inevitável fim. “Se por um instante Deus se esquecesse de que sou uma marionete de pano e me presenteasse com um pedaço de vida, aproveitaria esse tempo o máximo que pudesse”.

Beleza inventada

Para tudo! Pronto! O texto é tão falso que entrou naquele capítulo de "quem conta um conto aumenta um ponto". Neste caso, quem contou, aumentou, deturpou e muito. Tanto que descobrimos outra versão, menos melosa e melada, mas tão falsa quanto. Até o início é diferente: "Se, por um instante, Deus se esquecesse de que sou uma marionete de trapo e me presenteasse com um pedaço de vida, possivelmente não diria tudo o que penso".

Beleza passageira

"Mas, certamente pensaria tudo o que digo. Daria valor às coisas, não pelo que valem, mas pelo que significam. Dormiria pouco, sonharia mais, pois sei que a cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz. Andaria quando os demais parassem, acordaria quando os outros dormem. Escutaria quando os outros falassem e desfrutaria de um bom sorvete de chocolate".

Curtindo cada minuto da "dolce vita", Ludmilla Araújo. Foto: Sayara Sophia

Beleza breve

"Se Deus me presenteasse com um pedaço de vida, vestiria- me simplesmente, jogar-me-ia de bruços no solo, deixando a descoberto não apenas meu corpo, como também minha alma. Deus meu, se eu tivesse um coração, escreveria o meu ódio sobre o gelo e esperaria que o sol saísse. Pintaria com um sonho de Van Gogh sobre as estrelas um poema de Mário Benedetti".

Beleza efêmera

"E uma canção de Serrat seria a serenata que ofereceria à Lua. Regaria as rosas com as minhas lágrimas para sentir a dor dos espinhos e o encarnado beijo das suas pétalas. Deus meu, se eu tivesse um pedaço de vida! Não deixaria passar um só dia sem dizer às pessoas: amo-te, amo-te. Convenceria cada mulher e cada homem de que são os meus favoritos e viveria apaixonado pelo amor".

Beleza cansada

"Aos homens, provar-lhes-ia como estão enganados ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saber que envelhecem quando deixam de se apaixonar. A uma criança, daria asas, mas deixaria que aprendesse a voar sozinha. Aos velhos ensinaria que a morte não chega com a velhice, mas com o esquecimento".

Beleza legada

"Tantas coisas aprendi com vocês, os homens… Aprendi que todos querem viver no cimo da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a rampa. Aprendi que quando um recém-nascido aperta, com sua pequena mão, pela primeira vez, o dedo do pai, tem-no prisioneiro para sempre".

Beleza finda

"Aprendi que um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se. São tantas as coisas que pude aprender com vocês, mas, a mim não poderão servir muito, porque quando me olharem dentro dessa ‘maleta’, infelizmente estarei a morrer". Bom, até a "maleta" prova que o texto foi traduzido, mas não adaptado ao português do Brasil. Mas tudo bem, mensagem passada e captada.

"Vida louca, vida breve", quero que Raquel Mattar me leve. Foto: Edy Fernandes

Lança Perfume

*O importante é capturar a mensagem, bem clichê, de viver o hoje como se fosse o último dia, realizando todos os desejos, os atos mais importantes.

Como na canção "Epitáfio", uma das melhores músicas dos Titãs.

A música canta uma pessoa que faleceu e que se mostra bastante arrependida diante da vida que viveu.

Está no álbum "Melhor Banda de Todos Os Tempos da Última Semana".

Lançado em 2002, a canção foi composta por Sérgio Brito e é também interpretada por ele. Vamos a ela, mais uma reflexão sobre a vida e seu fim.

"Devia ter amado mais, ter chorado mais, ter visto o Sol nascer. Devia ter arriscado mais e até errado mais, ter feito o que eu queria fazer".

"Queria ter aceitado as pessoas como elas são. Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração".

"O acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído. O acaso vai me proteger enquanto eu andar".

"Devia ter complicado menos, trabalhado menos, ter visto o Sol se pôr. Devia ter me importado menos com problemas pequenos, ter morrido de amor".

"Queria ter aceitado a vida como ela é. A cada um cabe alegrias e a tristeza que vier".

O texto falso e a canção verdadeira lembram outras artes, variando sobre o mesmo tema. Então, para finalizar, dentro do clima, sugerimos dois filmes, ótimos para estes domingos de frio.

O primeiro é "Questão de tempo", na Netflix, que viaja no tempo, mas não pode pará-lo, nem mudá-lo. Tudo com muito humor. O segundo, vale pela frase dita durante todo o filme, "Sociedade dos Poetas Mortos", de 1989, "carpe diem". 

Em tempos de discursos limitados e repetitivos, o filme desperta o raciocínio e incentiva o ser humano a viver cada momento como se fosse o último, o famoso "carpe diem". 

Em tempo de pandemia, mais que nunca, "carpem diem", vivam o dia, todos vocês. Vá saber quando será o último!