Dolce Vita | domingo, 6 de junho de 2021

Entre as melhores do mundo, Lírian Zabiane. Foto: Edy Fernandes

Monsieur Bernard

A CNN Brasil Business confirmou uma evidência há muito anunciada: como o dono da Louis Vuitton, o francês Bernard Arnault, ultrapassou as “big techs” e tornou-se o segundo homem mais rico do mundo? Superou inclusive os “pobres”, Bill Gates e Elon Musk, de acordo com lista de bilionários da Bloomberg.

Monsieur Arnault

O Clube dos Tios Patinhas é repleto de celebridades dos negócios. O mais rico deles, Jeff Bezos, dono da Amazon; os já citados Musk, da Tesla e Gates, da Microsoft, Mark Zuckerberg, do Facebook e Larry Page, do Google, estão lá. Warren Buffett, dono da gestora Berkshire Hathaway, mago e mestre dos investimentos, também estrela a turma de insaciáveis.

Monsieur discreto

Aí surge um estranho no ninho, um “come quieto”. E sua Caixa Forte cresce bem mais rápido que as dos outros. Trata-se do empresário de 72 anos Bernard Arnault, dono da francesa LVMH, o maior conglomerado de produtos de luxo do mundo. Pudera! A cereja do bolo francês é a marca de bolsas que chegam a custar US$20 mil, a Louis Vuitton.

Monsieur luxo

O que a CNN Brasil não lembrou é o novo cliente (ou pirata) dos produtos de luxo. Antes eram japoneses e árabes, hoje, russos e principalmente chineses, sim, sempre eles. A CNN Brasil também não contou que os mesmos chineses compram vinícolas francesas falidas e transformam uma garrafa em 20, 30 outras, com o mesmo rótulo original, por direito. No mínimo, um pecado.

Monsieur alvo

Também não disse que com as bolsas Louis Vuitton aconteceu coisa pior. As bolsas são tão falsificadas que, na China, viraram sinônimo de “bolsa de secretária”, toda e qualquer uma tem. Para reconquistar as milionárias chinesas, a Vuitton lançou mão de uma astúcia bem francesa. Para valorizar suas bolsas, começou a aplicar nelas detalhes em ouro e pedras preciosas. Literalmente foi obrigada a agregar valor para combater a contrafação chinesa, sempre na maior cara de pau.

Monsieur bilhões

Também pertencem ao grupo de Arnault, que adora arte e tem polêmica história, as marcas de moda Dior e Givenchy, as joalherias Tiffany e Bvlgari, as vinícolas de champagne Moët & Chandon e uma lista de mais de 60 outras marcas de altíssimo padrão. Arnault, pianista frustrado, ultrapassou Musk por um pequeno punhado de bilhões e agora é o segundo dono do mundo.

Monsieur Europa

Arnault tem a bagatela de US$159 bilhões; Musk, US$157 bilhões. No início do ano, o controlador e presidente da LVMH já havia deixado para trás Bill Gates também, hoje em quarto lugar, com US$141 bilhões. Tadinho! Arnault, claro, o homem mais rico da Europa, não só é menos badalado que os colegas bilionários, como também destoa do restante do ranking de outras formas: é o único do top 10 que tem os negócios fora dos Estados Unidos.

Monsieur fenômeno

E com exceção do mega-investidor Warren Buffet, no mercado financeiro, é também o único que não vem do setor de tecnologia. É, ainda segundo a CNN Brasil, o luxo em alta e a tecnologia em pausa. Quem diria! Explosão do mercado de luxo pós-pandemia e freio na euforia das ações de tecnologia ajudaram a fortuna do francês a crescer muito mais rápido do que a dos seus afortunados colegas.

Monsieur LVMH

“Do começo do ano até aqui, as ações da LVMH já subiram 23% na bolsa de Paris, onde estão listadas, acompanhando um impulso no preço das empresas ligadas a luxo e consumo, conforme as vacinas avançam na Europa e o crescimento da região indica que será forte nos próximos meses”. As ações da também francesa L’Oréal – companhia do 11º ser humano mais rico do mundo, Françoise Bettencourt Meyers.

Monsieur Bolsas

Françoise também é a segunda na lista da Bloomberg fora dos EUA, com suas ações avançando 15% em 2021. As da espanhola Inditex, dona da Zara e patrimônio do 12º mais rico, Armancio Ortega, ganharam 23%. Já as da Tesla, principal ativo no patrimônio de Musk, caíram 17% desde o começo do ano na Nasdaq, em Nova York.

Monsieur mágico

A queda é, ao mesmo tempo, uma correção da fantástica e absurda alta de 740% em 2020 e reflexo das fortes quedas na cotação do bitcoin, moeda virtual na qual a Tesla havia aplicado “fichas” de US$1,5 bilhão. “O segmento de luxo é muito resiliente. Ele vende para um público não impactado pela crise; esse extrato não sofre disso”, disse Arthur Siqueira, sócio e analista da GeoCapital, gestora de fundos brasileira especializada em ações internacionais.

Entre as charmosas do mundo, Natália Norberto Marques. Foto: Edy Fernandes

Lança Perfume

*Ainda sobre os mais ricos e poderosos do mundo. Siqueira lembra que, no meio de 2020, as ações das companhias de luxo amargaram bastante.

Deprimidas principalmente pela redução da circulação da alta renda porque “os ricos não puderam mais ir a Paris”, diz. Mas se a montanha não vem a Maomé, Maomé vai “online”.

Tanto nas bolsas como no mundo real: as vendas da LVMH no primeiro trimestre cresceram 32% na comparação com o primeiro trimestre de 2020.

E 8% sobre os mesmos meses de 2019, antes de qualquer efeito da pandemia.

O valor alto de uma Tesla na bolsa está ligado ao que ela pode valer no futuro, então, quando surgem dúvidas sobre esse futuro, o preço da ação sofre, diz Siqueira.

“Já empresas como a LVHM ou a L’Oréal são muito estáveis. Não vão dar retorno de 50% em um ano como as ações do Zoom, mas a probabilidade de crescimento é muito alta”.

“A Louis Vuitton é ícone do luxo há 50 anos, muito difícil que não continue sendo nos próximos dez.”

Não é a estreia de Arnault no pódio. Em 2019 e 2020 ele já vinha rivalizando com Gates e flertou com a segunda posição na lista da Bloomberg algumas vezes.

O choque da pandemia o jogou para trás novamente, enquanto as ações das techs explodiam.

Também não é a primeira vez que o francês fica entre os dez mais ricos. Ele está lá há bem mais tempo do que quase todos os outros.

Dos dez grandes bilionários atuais, só Arnault, então em sétimo, Buffet, Gates e Larry Ellison, da fabricante de softwares Oracle, figuravam entre os dez mais ricos de 2010, da Forbes.

Ao lado deles, executivos das telecomunicações, do varejo e do petróleo - caso do brasileiro Eike Batista.

Eike chegou a ser a oitava pessoa mais rica do mundo quando a sua companhia, EBX, hoje na lama, era ainda uma promessa.

Na Terra do Luxo, Paula Tatiana, em Paris. Foto: Arquivo Pessoal

Do seleto grupo, só os veteranos Gates e Ellison eram da tecnologia. Todos os outros seis do ranking atual vieram depois. 

Voltando ao lado mecenas de Bernard Arnault, a CNN também “esqueceu” uma polêmica de 2018, no jornal francês, “Libération”.

“O mecenato é penalmente repreensível? Este é o tema, o clima de uma denúncia sobre fraude e lavagem de dinheiro, fiscal, visando Bernard Arnault, da LVMH”.

A Fundação Louis-Vuitton e seu gigantesco museu de arte, novo cartão postal de Paris, custou 790 milhões de euros, em vez dos 100 milhões da avaliação inicial.

O lindo museu, projeto de Frank Gehry, segundo Arnault, “foi um presente para a França”.

Vira e mexe, os milionários franceses, empresários e artistas são alvos de operações deste tipo.

Por isso muitas empresas e ricos transferem capital, endereços e até nacionalidade para outros países.

Para terminar com chave de ouro e platina, Bernard Arnault é “amigo, eleitor e correligionário” de quem? Do presidente Emmanuel Macron, candidato à reeleição, em 2022.