Dolce Vita | domingo, 26 de dezembro de 2021

A linda idade de Ana Marina Valente. Foto: Edy Fernandes

Mundo perfeito

Ontem comemoramos o Natal. Esperamos que idolatradas leitoras e caros leitores tenham comemorado não no estilo “fim do mundo”, muito pelo contrário. Que o Natal tenha sido símbolo de ressurreição, sinal de novos, bons e velhos tempos. Mesmo desejo para a virada do ano. Afinal, a diferença do 31 de dezembro para um primeiro de janeiro está apenas no calendário. O mundo não vai mudar da noite para o dia.

Domingo perfeito

Assim, voltemos à esta coluna de domingo, coluna que, o ano inteiro, busca levar um pouco de reflexão, com uma leitura mais leve e repleta de licenças poéticas, sem apelar para a autoajuda, tão simplória. Provavelmente já compartilhamos este texto, adaptado e comentado. Assim, hoje, seguindo sugestão da amiga, Sandra Pujol, tentaremos uma nova abordagem.

Dia perfeito

Peguem as avelãs e as nozes de ontem; o peru da festa, ao lado da maionese na geladeira; fatias de tender e, por que não, mais uma garrafa de espumante ou vinho branco, sempre com moderação. A leitura de mais um texto anônimo, “texto de redes sociais”, combina bem com o “enterro dos ossos”. Isso para os não veganos, claro. De qualquer forma a diversão, o passatempo, é para todos. Que o feliz Natal continue!

Tempo perfeito

Não é preciso pensar ou observar muito para detectarmos a aparição de uma nova faixa social que não existia antes: pessoas que hoje têm entre sessenta e oitenta anos. Quer dizer, até existia,  mas não da forma atual. Os idosos de hoje têm muito mais de sessenta ou oitenta anos. Da mesma forma, dependendo de como levamos e encaramos a vida, jovens de 20 e poucos anos são mais velhos que muita gente beirando os 90 ou mais. Progresso da medicina, evolução de hábitos, costumes e otimismo.

Grupo perfeito

“A esse grupo, com mais de sessenta ou oitenta anos, pertence uma geração que expulsou da terminologia a palavra envelhecer, porque simplesmente não tem em seus planos atuais a possibilidade de fazê-lo”. De novo, alguma coisa de novo no front? Claro que não! Assim como o Brasil, há muito, não é o país jovem que já foi; brasileiras e brasileiros estão cada vez mais longevos. Principalmente os mais privilegiados, no país das grandes injustiças sociais.

Modo perfeito

Sim, porque Saúde tem tudo a ver com modo de vida e uma vida mais interessante e saudável depende de muita coisa, inclusive paz de espírito e, falando sem volteios, de dinheiro. Dinheiro sim, esta palavra “proibida” que, se não é garantia de felicidade, ajuda muito a encontrá-la. Assim, este fenômeno é uma verdadeira novidade demográfica. Ou não?

Brasil perfeito

Novidade ou não é “semelhante ao surgimento da adolescência; na época, que também era uma nova faixa social, que surgiu em meados do século 20 para dar identidade a uma massa de crianças desabrochando, em corpos adultos, que não sabiam, até então, para onde ir ou como se vestir”. Ironicamente, o que parece envelhecer é este texto, porque nossos adolescentes são completamente diferentes daqueles que fomos. O Brasil é outro, em outro mundo.

Trabalho perfeito

Mas continuemos navegando o texto original. “Este novo grupo humano, que hoje tem cerca de sessenta, setenta ou 80 anos, levou uma vida razoavelmente satisfatória.
São homens e mulheres independentes que trabalharam durante muito tempo e conseguiram mudar o significado sombrio que tanta literatura latino-americana deu por décadas ao conceito de trabalho”.

Momento perfeito

Sim, lembrando, mais uma vez que, para uma vida satisfatória, é preciso ter tido boas oportunidades, como trabalhar muito, trabalhar bem e ter recebido por isso, por mérito e justiça. Para uma vida satisfatória na velhice, ou nesta nova velhice, é preciso ter aproveitado boas oportunidades de trabalho, com uma remuneração justa. O Brasil não é sinônimo de justiça, incluindo a população ativa e claro, os aposentados. Nem todos conseguem se aposentar bem, aos 50 e poucos anos, mesmo depois de trabalhar 30.

Sonho perfeito

“Longe dos tristes escritórios, muitos deles procuraram e encontraram, há muito tempo, a atividade que mais gostavam e na qual ganham a vida”. Outra vez, pensando bem, coisa muito rara. “Supostamente é por isso que eles se sentem plenos; alguns nem sonham em se aposentar”. Claro, mas este sonho é para quem pode, quem teve a sorte de ganhar a vida amando seu trabalho. Aí sim, aposentadoria é até castigo.

A escultural idade de Cláudia Gambaroni. Foto: Edy Fernandes

Lança Perfume

*“Aqueles que já se aposentaram desfrutam plenamente de seus dias, sem medo do ócio ou solidão, crescem internamente”. De novo, “aqueles” privilegiados.

“Eles desfrutam do tempo livre, porque depois de anos de trabalho, criação dos filhos, carências, esforços e eventos fortuitos, vale bem a pena contemplar o mar, a serra e o céu”.

“Contemplar o mar, a serra e o céu”, um luxo, uma exceção, pérolas aos poucos, concordam?

“Não são pessoas paradas no tempo; pessoas de sessenta, setenta ou oitenta, homens e mulheres, operam o computador como se tivessem feito isso durante toda a vida”.

Mais ou menos. A pandemia mostrou que, muita gente, incluindo gente mais jovem, não estava preparada para viver “virtualmente”.

O que era luxo, operar um computador, hoje é chata obrigação. Privilégio, hoje, é ser atendido presencialmente.

“Eles escrevem e veem os filhos que estão longe e entram em contato com seus amigos via WhatsApp”.

“Hoje, pessoas de 60, 70 ou 80 anos, como é seu costume, estão lançando uma idade que ainda não tem nome”.

“Antes, os que tinham essa idade, eram velhos e hoje não são mais... hoje estão física e intelectualmente plenos”.

“Lembram-se da sua juventude, mas sem nostalgia, porque a juventude também é cheia de quedas e nostalgias e eles bem sabem disso”.

“Hoje, as pessoas de 60, 70 e 80 anos celebram o Sol todas as manhãs e sorriem para si mesmas com muita frequência ...”.

“Elas fazem planos para suas próprias vidas, não com as vidas dos demais”.

“Talvez, por algum motivo secreto que apenas os do século 21 conhecem e saberão, a juventude é carregada internamente”.

A perfeita idade de Tamira Halabi. Foto: Edy Fernandes

A diferença entre uma criança e um adulto é, simplesmente, o preço de seus brinquedos”.

“Por favor, não guarde, passe adiante, sei que você tem uma juventude acumulada, não importa se são 60, 70 anos, 80, ou mais. A vida é pra quem sabe viver…”.

Bom texto de “ficção científica”, certo? “Otimista é apenas uma pessoa mal informada”. A vida, como vemos, não é para quem sabe viver, é para quem pode.

O sol nasce para todos, a sombra, para poucos!

Mesmo assim, na medida dos possíveis, feliz 2022, para os sobreviventes da pandemia, do Brasil e da vida