Dolce Vita | domingo, 20 de junho de 2021
Nada de quase, Magda Carvalho é tudo. Foto: Edy Fernandes
Quase tudo
Há uma semana, recebemos, pelo menos, 20 mensagens com o mesmo texto, "Quase". Sinal de que muita gente boa se identificou com uma redação de 2002, supostamente de Sara Westphal, “numa sala de cursinho preparatório para um segundo vestibular de medicina”. Também gostamos e pensamos em dividir com as idolatradas leitoras e caros leitores. Quem gostar, basta compartilhar sem fim.
Quase vero
“O professor pediu licença para ler em voz alta a redação da mocinha e duas ou três colegas gostaram tanto do texto que lhe pediram uma cópia, as quais ela fez à mão. Desde então, ‘Quase’ mudou a vida de muitas pessoas... Quatro anos depois, Sara estava na faculdade de Medicina. Num domingo de Páscoa, leu a coluna de Luís Fernando Verissimo”.
Quase verdade
A coluna dizia algo assim: "Eu gostaria de encontrar o verdadeiro autor de ‘Quase’ para agradecer a glória emprestada e para lhe dar um recado". E ali estava ela, reconhecendo o texto que um dia escrevera numa obscura sala de cursinho.
Quase mundo
Com Verissimo, Sara soube que "Quase" havia sido traduzido para o francês "Presque" e que fazia parte de uma coletânea de grandes escritores brasileiros, como Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade entre outros - lançada no Salão do Livro de Paris. O "Quase" de Sara rodou mundo.
Quase hino
"Minha redação de cursinho cruzou o mundo como se fosse do Verissimo. Virou letra de música, tatuagem, rap na Guiana Francesa, espetáculo de dança, questão de vestibular, de concurso público e até anúncio de funerária. Fez parte das turnês de Ana Carolina e também foi lido pela Ana Maria Braga".
Quase lá
Se tudo isso for verdade ou apenas uma história bem contada, ela continua assim: Sara demorou ainda mais uns anos até largar a medicina e tornar-se jornalista... na Austrália. Coisas da Internet. Ops! Largar medicina para virar jornalista? Que escolha insensata! Corajosa, mas insensata. E ainda por cima, na Austrália? Tudo muito estranho, mas não mais que o novo anormal.
Quase Sara
Fazendo um pouco de jornalismo investigativo no Google, descobrimos coisas que parecem comprovar a veracidade de “Quase” e a existência de Sara. Para começar, é Sarah e não Sara. “Sarah Westphal Batista da Silva (1983) é catarinense, autora da crônica ‘Quase’ que, durante anos foi atribuída a Luís Fernando Verissimo, sendo publicada na França, numa coletânea de escritores brasileiros, reunidos por uma escritora francesa. Então, passemos, sem mais delongas, ao famoso “Quase”, de Sarah Westphal.
Quase vivo
“Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez, é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas ideias que nunca saíram ou sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono”.
Quase nunca, 100% Rafaela Paixão. Foto: Edy Fernandes
Lança Perfume
*O texto de “Quase” continua mandando bem. “Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto”.
“A resposta, sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos ‘Bom dia’, quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até para ser feliz”.
“A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são”.
“Se a virtude estivesse mesmo no meio-termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza”.
“O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si”.
“Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance”.
“Para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer”.
“Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma”.
“Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar”.
“Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando”.
“Porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu”.
Ao ler e repassar o texto de “Quase”, amigo nosso, arquiteto, grande artista plástico e designer, desabafou ou resumiu bem a lição.
“Este texto sobre o ‘Quase’ parece ser a lei Número Um de Minas Gerais onde, quase nada acontece em sua plenitude!”.
Nosso amigo tem razão. Minas parece sofrer da “Maldição de Tancredo Neves” que quase chegou lá, que foi sem nunca ter sido.
Maldição que alcançou até seu neto, Aécio Neves que, tinha tudo para ser o atual Presidente da República, mas... foi quase!
Minas quase tem mar, como o Rio, Minas é quase Bahia, mas, colado a São Paulo, está longe de ser quase uma potência.
Quase é muito pouco para a completa Shirley Gomes. Foto: Edy Fernandes
Minas está no Sudeste, mas é quase Nordeste, quase Centro-Oeste.
Minas não tem petróleo, tem minas gerais, por isso é quase rico, rico por um triz. Feliz por um triz ou uma Beatriz.
Pensem bem em tudo que a gente quase é. Tem muita coisa, nestas Minas Quase Gerais!
Pensando melhor, “Quase” está mais, está quase, é para Manuel Bandeira: “a vida inteira que podia ter sido e que não foi”.
“Libertas Quase Sara Tamen”.