Dolce Vita | domingo, 19 de dezembro de 2021

Philipp Rode, diretor executivo da LSE Cities, Ricky Burdett, professor de Estudos Urbanos e diretor do projeto “The Urban Age”, Gabriel Azevedo, mestrando pela London School of Economics e vereador de Belo Horizonte, Tony Travers, professor e diretor da LSE London, e Savvas Verdis, co-diretor do Mestrado Executivo em Cidades na LSE Cities.  Foto: Arquivo Pessoal

Solução londrina

Vale conferir no Google os nomes de Philipp Rode, Ricky Burdett, Savvas Verdis e Tony Travers. O quarteto é composto por alguns dos maiores especialistas em cidades no planeta. Os quatro também encabeçam um mestrado criado na London School of Economics. Entre os mestrandos da quinta turma, o vereador Gabriel Azevedo.

Solução mundial

Ao longo de 18 meses, 24 participantes de todo mundo aprendem como tornar as cidades melhores se dedicando a projetos que possam aplicar em suas localidades. Em cinco oportunidades, há aulas presenciais em Londres ao longo do período. De 29 de novembro a 3 de dezembro, o vereador esteve em Londres para mais uma dessas etapas.

Solução insolúvel

Serão mais três no ano que vem até a apresentação da dissertação em junho de 2022. Cada um escolhe um tema a aprofundar. No caso de Gabriel, mobilidade. Justo. A capital mineira possui o segundo pior trânsito do Brasil. É de sua autoria o texto de lei que criou a Superintendência de Mobilidade que passa a existir em 1° de janeiro de 2022 para substituir a BHTrans.

Insolúvel e desafiadora

Além disso, o vereador presidiu ao longo de 2021 uma CPI para escancarar os problemas que envolvem os ônibus na cidade. O assunto é mesmo complicado e precisa de muito conhecimento para criar soluções. Que os especialistas que encabeçam o curso possam contribuir. E que mais políticos brasileiros se dediquem ao aprendizado para que nossos mandatários sejam cada vez mais capacitados.

A rainha Alessandra Valente dona de todo o charme do mundo. Foto: Edy Fernandes

Desafiadora e improvável

OK! Parabéns ao amigo Gabriel. Sabemos do que ele é capaz. Mais uma lição e uma grande experiência. Pena que, como todos nós, sozinho, ele não terá como aplicar tudo o que aprende. Num exemplo bem tosco, mas simples, de nada adianta uma pessoa ter carteira de motorista e pilotar bem, se não tem um automóvel para tal.

Improvável e complicada

Como trazer, de Londres, com seu metrô de 158 anos, soluções de mobilidade para uma cidade com Belo Horizonte, que nem metrô tem. O que temos é um trem de superfície, com poucas e distantes estações, dependentes de terríveis ônibus para completar a viagem, o destino. Pela milionésima vez, repetimos: uma cidade grande, sem metrô é, “eu sem você, chama sem luz, jardim sem luar, luar sem amor, amor sem se dar”; no mínimo um pecado.

Complicada e travada

Uma cidade grande como Belo Horizonte, sem metrô ou outras alternativas de transporte público é uma relação sadomasoquista. “Ah! A topografia de Belo Horizonte não permite metrô, etc. Mentira! Em Paris, Londres e outras metrópoles, o metrô vai tão fundo que passa sob o rio Sena em Paris ou o Tâmisa em Londres. O verdadeiro nome do problema é Brasil. Falta de vontade política, falta de coragem e de pensar na população.

Travada e nociva

O metrô da vizinha Buenos Aires tem 108 anos. Os metrôs de São Paulo e Rio funcionam, mas, para duas metrópoles, as linhas são insuficientes. Fica cada ano mais famosa a frase de Jaime Lerner: “o carro é o cigarro de amanhã”. O carro é o grande vilão a ser combatido, uma estrovenga que, além de poluir, causa insanos engarrafamentos. Perda de tempo e de dinheiro.

Toda a exuberância e beleza de Ângela Dariva. Foto: Edy Fernandes

Nociva e injusta

E por que no Brasil ainda dependemos tanto dos automóveis? Porque o transporte coletivo é de quinta ou décima quinta categoria. A passagem é cara para quem ganha salários mínimos. O conforto é pouco, motoristas com os nervos à flor da pele e que, agora, também fazem o trabalho dos cobradores que perderam o emprego. E o pior de tudo, ônibus lotados no horário de pique e escassos em horários normais.

Injusta e perigosa

Por falar em horário de pique e “rush”, para automóveis este “luxo de duplo sentido” acabou. Em Belo Horizonte, parece que o trânsito, todos os dias da semana, é o trânsito pesado que só víamos às sextas. Horário de pique não é mais na hora do almoço ou fim de expediente, mas o dia todo. Horas no trânsito são perda qualidade de vida. Um estresse inútil e total.

Lança Perfume

*Renovamos os parabéns ao Gabriel Azevedo. Esperemos que ele tenha feito também um curso de mágica.

Mágica para trazer o dinheiro que os britânicos gastam e investem em transporte.

Mágica para importar a tecnologia do metrô do Século 19 para o Século 21.

Lembrar metrô não exige o conhecimento que construiu as pirâmides do Egito há quase cinco mil anos. Não estamos pedindo o impossível.

Mesmo porque o homem foi à Lua e até hoje não sabe como foram erguidas as pirâmides.

A elegância em forma de mulher, Carol Toledo. Foto: Edy Fernandes

Pode trazer também o próprio rio Tâmisa que é navegável, bem diferente do nosso esgoto a céu aberto, o Arrudas.

Não sabemos se Gabriel ainda se locomove de bicicleta, do Centro, onde mora, até a Câmara dos Vereadores. Em campanha e no primeiro mandato ele pedalava.

E bicicleta sim, aí a topografia de BH atrapalha. A cidade tem poucas áreas planas, diferente de Miami, Rio e São Paulo.

Muito diferente de Paris, Londres, Amsterdã ou aquelas enormes cidades asiáticas onde reinam as bicicletas, como no Vietnã.

E mais, não raramente, vemos na TV, prefeitos e autoridades da Europa usando o transporte público.

Na Suécia, além de usarem bicicletas, políticos não têm mordomias, assessores.

Moram num “quarto e sala” e o melhor, trabalham bem e sem salário. São servidores públicos no sentido mais nobre e amplo.

O que poderíamos ou sonhamos importar de Londres daria uma lista sem fim. Não à toa é uma das cidades mais lindas, queridas e visitadas do mundo.

Só não aconselhamos trazer a imortal Rainha Elizabeth II que, aqui, não sobreviveria um único dia da vida impingida ao presidente Bolsonaro, todo santo dia, mesmo antes de tomar posse.