Dolce Vita | domingo, 17 de outubro de 2021
Domingo é dia de charme, dia de Constanza Fernandez. Foto: Edy Fernandes
Menina dos Olhos
Refrescando a memória. Um parque linear no ramal ferroviário Belvedere-Olhos D'Água, entre BH e Nova Lima - estação ferroviária para trem turístico, estruturas de lazer e área verde - foi defendido em audiência pública. A ideia é recuperar a abandonada área de propriedade da Superintendência do Patrimônio da União (SPU), alavancando o turismo, gerando trabalho e renda, com proteção ambiental.
Olhos verdes
O presidente da Fundação Doimo, Elias Tergilene, falou sobre o tema invocando uma parceria público-privada. “Há mais de três anos, solicitamos à União a utilização da ferrovia. O trem turístico iria do Belvedere ao Instituto Inhotim, sendo a primeira etapa até o polo gastrocervejeiro, no Olhos D’água. Um projeto com pé no chão, aproveitando a linha e dormentes. Temos fauna e flora, em um projeto socioeconômico”.
Olhos escuros
Mais recentemente, a pedidos, sem citar nomes, continuamos a novela, com novos personagens: “A luta pela criação do Parque Linear e a implantação do trem até o Belvedere é uma luta duríssima, estamos enfrentando empresários poderosos, que querem criar uma via expressa na linha do trem, pra ligar a BR-356 à área atrás da sede da Vale, no Jambreiro e, com isso, viabilizar a implantação de novos condomínios que trarão mais 40 mil pessoas pra esta região superadensada”.
Olhos míopes
Outro interessado: “Acho estranho demais essa propaganda de uma linha ferroviária. É impossível. A ferrovia foi completamente invadida pela favela no Olhos d’Água. Nunca vi favela ser removida. Quem participou? Qual o trecho? A questão de tirar a turma que invade terreno da União pode até acontecer no papel, mas vejam aqui próximo de nós? Ainda nada aconteceu”.
Olhos atentos
A discussão, em grupo de WhatsApp, ganhou peso, participantes, história e mais opiniões: “A discussão sobre a área começou em 1998, depois que a Rede Ferroviária Federal foi extinta e a guarda ficou com a SPU. Um dos primeiros projetos é de uma associação de empreendedores de Nova Lima, uma via expressa”.
Olhos vivos
“Via ligando a BR-356 à Mata do Jambreiro, depois da sede da Vale, com o claro intuito de dar acesso viário àquela região e, portanto, abrir oportunidades para vários empreendimentos imobiliários. Depois, surgiram as primeiras conversas sobre ocupar a área com um parque, recuperando a fauna e a flora locais”.
Olhos gordos
“Ao longo do tempo, nenhuma proposta se transformou em realidade, por inúmeros fatores, entre eles a dificuldade de regularização de posse da área, que impediu, por exemplo, que fosse vendida pela Caixa para construção de edifícios residenciais. O banco federal tem uma planta em que dividiu a área em 25 glebas, avaliadas em R$300 milhões. Ninguém se interessou. A única coisa que prosperou foram as ocupações”.
Olhos atentos
“Há três principais ocupações: uma pequena, onde ficam as benfeitorias da Rede, com cerca de 25 pessoas, já com ordem judicial de despejo, adiada a pedido do MP até o fim da pandemia. A segunda, com dois estacionamentos que invadiram a área. Um deles já foi desocupado. A terceira, a maior e mais complicada, invasão enorme no Bairro Olhos D'Água, com centenas, talvez milhares de pessoas morando em barracos construídos praticamente em cima dos trilhos”.
Olhos abertos
“A coisa esquentou. Em 2016, nasceu um movimento popular na comunidade do Belvedere, inspirado no High Line de Nova York, onde moradores transformaram em parque a linha suspensa de trem que servia ao porto do Rio Hudson. Isso revitalizou a região. Os depósitos gigantes, ao longo do rio, transformaram-se em restaurantes, galerias de arte, etc., o que impulsionou o comércio. Hoje é uma das regiões mais procuradas para lazer, cultura e gastronomia em Manhattan”.
Olhos cercados
“O movimento popular no Belvedere encontrou apoio na Associação de Moradores do bairro e no deputado João Leite, que se interessa por dois motivos principais. O primeiro é a preservação da Estação do Cercadinho, que serve como área de recarga de água de chuva para a Copasa”.
Olhos molhados
“Projeto de lei dele e da deputada Lúcia Pacífico. Segundo, pela ligação sentimental do deputado com a questão ferroviária, ele é filho de maquinista e luta há anos pela recuperação do transporte ferroviário. Aos poucos outros interessados aderiram ao movimento: moradores do Vila da Serra, entidades ambientais e ONGs ferroviárias”.
Olhos azuis
Na troca de ideias, chegou-se ao consenso de que a melhor solução para a área é o Projeto Parque-Estação Belvedere, a ser desenvolvido em duas etapas: Na primeira, a construção do Parque, mais simples. Na segunda, a revitalização da linha, com um trem turístico de luxo, ligando o Belvedere ao Parque Inhotim, como alternativa ao uso de transporte rodoviário pela BR-381.
Domingo é dia de elegância, dia de Janaina Pacheco. Foto: Edy Fernandes
Lança Perfume
*Continua a novela sem fim. As reuniões foram realizadas com a SPU, na tentativa de conseguir a cessão da área para a PBH.
A PBH repassaria com um contrato de cessão por encargo à Associação de Moradores do Belvedere, que teria o encargo de construir o parque no prazo estipulado.
Mas a SPU manteve uma posição de adiar seguidamente a tomada de decisão.
O projeto abriu as portas da PBH. O prefeito Kalil apoiou a ideia e chegou a mandar representantes da procuradoria municipal às reuniões com a SPU.
Em uma das audiências, estava presente, por via remota, o curador do Museu do Inhotim, Antônio Grassi, que ficou encantado com a ideia.
Dali, a proposta de criar, no Belvedere, uma "extensão", um "braço" do museu, a ser instalado na estação de trem de onde partiria a composição com destino a Brumadinho.
Há cerca de um ano, surgiu a informação de que a SPU havia decidido repassar a guarda da área para o governo do Estado, que está preparando um edital de licitação para o Projeto de Manifestação de Interesse (PMI).
Até o momento, dois grupos manifestaram interesse e procuraram apoio do movimento popular.
Um dos grupos é liderado pelo dono da construtora EPO, Gilmar Dias Santos. O outro grupo é comandado pelo dono do Shopping Uai, Elias Tergilene.
Ambos terminam a construção de mercados na região dos antigos motéis da BR-356 e defendem a ideia de uma ligação do Belvedere com os estabelecimentos comerciais.
“Mas sabemos que há outros interesses, focados em dar acesso à região depois da sede da Vale para a concretização de projetos imobiliários”.
“Este projeto é visto pelo movimento popular com grande temor, devido ao altíssimo adensamento habitacional da região do Vila da Serra e do Vale do Sereno”.
“Problema que seria agravado de forma intensa, sem contrapartidas mitigatórias”.
Domingo é dia de cores, dia de Nana Guimarães. Foto: Edy Fernandes
Há um terceiro grupo que deve também participar da disputa, mas que ainda não se apresentou oficialmente. O principal investidor seria um grupo financeiro internacional.
Afinal, que versão vai vencer? O que falará mais alto? “A força da grana que ergue e destrói coisas belas”, como canta Caetano Veloso, em “Sampa”?
Enquanto isso, as prefeituras de Belo Horizonte e Nova Lima iniciam tratativas para a construção de uma nova via que vai ligar as duas cidades.
O objetivo é minimizar os gargalos no trânsito na região.
Fala o prefeito de Nova Lima, João Marcelo Diegues: “Nossa proposta é utilizar o leito da antiga linha férrea, pertencente hoje a SPU, como essa solução viária”.
“É importante ressaltar e deixar claro que essa solução não permitiria nenhum tipo de expansão imobiliária”.
“Apenas o uso para mobilidade, como um VLT, túneis e viadutos de acesso”.
Diegues conta ainda que a ideia do custo desse projeto estaria em torno de 150 milhões. “É claro que o projeto precisa ser aprimorado, aprofundado”.
Pela proposta, empresários instalados no limite de BH com Nova Lima abasteceriam um fundo para custear a obra.
O assunto foi tema de reunião, dia 5, na sede do Ministério Público, com presença do prefeito Kalil.
“Eu acho que se não conversar com um órgão que nos dê apoio jurídico, junto com a boa vontade de Nova Lima e de Belo Horizonte, nós não vamos resolver aquilo”.
“E pelo que vi hoje nós vamos partir para escolha e execução desse projeto, através de doadores de empresas grandes e interessadas em doar”.
“Porque trabalham em Nova Lima e desembocam em Belo Horizonte. Então, com todo mundo de acordo, vai dar certo”, afirmou Kalil.
Fala o procurador geral do Ministério Público de Minas Gerais, Jarbas Soares.
“Vamos constituir um grupo de trabalho para alinharmos os passos seguintes. Há um projeto da Prefeitura de Nova Lima. Será muito bom que as prefeituras trabalhem junto com o Ministério Público”.