Dolce Vita | domingo, 16 de agosto de 2020

Todas as cores da beleza em preto e branco, com Renata Costa

Foto: Edy Fernandes


“La Classe”de Sibele Barony

Foto: Edy Fernandes


Um floral domingo com Tatiana Abras

Foto: Edy Fernandes


Primeiros dias

Hoje, “domingão”, é ideal para raspar o tacho e o baú de nossas anotações, desde o início da pandemia; antes e durante o confinamento. Uma das primeiras brincadeiras, com um fundo de verdade, avisava sobre o fim da profissão mais antiga do mundo, a prostituição. A segunda mais antiga, segundo o ferino e saudoso Paulo Francis, é esta aqui, o jornalismo!

Antigos dias

A verdade é que a prostituição clássica, aquela de zona do baixo meretrício, como mil outros hábitos e comportamentos, já agonizava na UTI e com certeza será enterrada neste novo normal. Olhares mais atentos sabem que a prostituição, há muito e principalmente agora, dispensa o bom e velho bordel ou casas de prazer.

Inovadores dias

Desde a internet, as “moças de vida fácil” descobriram que lucram muito mais atendendo por um tipo de “delivery”, em hotéis e até mesmo na casa dos clientes, estes sim, eternos. Não precisam pagar o “cafetão”, nem “o local do crime, do pecado”. E ainda podem escolher e estudar os candidatos. Mesmo assim, ainda correm o enorme risco de cruzar um psicopata.

Novos dias

Mas é uma mudança lenta. Porque vivemos na vanguarda do atraso. Porque, em pleno século 21, muitos brasileiros ainda não têm acesso à internet. Assim como metade da população não tem saneamento básico: água e esgoto. Nesta “teimosia desesperada”, com ou sem Covid-19 e confinamento, passando pelo centro de BH era e está fácil ver muitos homens entrando e saindo das famosas “casas e quartos de tolerância”. Sem máscara e vergonha na cara, claro.


Professor vírus

Outra do nosso bloco de notas, ainda sobre o coronavírus, é válida hoje e para sempre. Deveria também ter sido um hábito desde antes, o que evitaria muitas doenças. Por exemplo, no mínimo por educação, não devemos tocar nas coisas no supermercado, apenas no que vamos levar. Na Europa, está proibido apalpar frutas e legumes nas feiras.

Doutor vírus

Ao chegar em casa, tem gente que lava tudo, até as embalagens. Mas devemos, no mínimo, deixar as compras no chão por pelo menos quatro horas e sempre, principalmente, lave as mãos durante o tempo de cantar “parabéns para você”, rezar uma Ave Maria, duas vezes. Isso, claro, para quem tem água em casa.


Epidemia de mentiras

Outra sobre o incontornável Coronavírus, perfeita para esta pandemia de informação, onde especialistas brigam entre eles, gerando mil opiniões tão amadoras quanto duvidosas. Notícia boa contra a paranoia e o terrorismo. “Um projeto de colaboração global entre organizações de “fact-checking” (checagem de fatos) uniu esforços para desmentir boatos e combater a desinformação sobre a epidemia do coronavírus.

Epidemia de confusão

Ainda em fevereiro, verdadeiros esquadrões, 91 organizações de “fact-checking” de 40 países, tinham aderido ao CoronaVirusFacts Alliance (o nome em espanhol é DataCoronaVirus). Na América Latina, dez organizações da Argentina, Brasil, Colômbia, Equador, México e Venezuela já faziam parte da colaboração, que foi lançada em 24 de janeiro.

Epidemia de “fakes”

Segundo a diretora-adjunta da International Fact-Checking Network (IFCN) e fundadora da Agência Lupa, Cristina Tardáguila, que coordena o projeto, a colaboração pode se tornar a maior aliança de checadores da história. Em todas as áreas, inclusive ou obrigatoriamente na política. Seria bom também checar as instituições de pesquisas, grandes mídias e o infinito.


Apocalipse Now

Para terminar, pandemia e confinamento não aumentaram apenas o número de divórcios, mas, infelizmente, também a violência doméstica, contra mulheres e crianças em todo o mundo. Já os assassinatos e todo tipo de violência, que haviam diminuído, prometem voltar com toda a força da intolerância, crueldade, miséria e paciência zero.

Apocalipse amanhã

Pessoas confinadas podem beber menos ou mais, mas envolvem-se menos em brigas incentivadas pelo excesso de drogas e álcool nas ruas. Os acidentes de trânsito com mortos e mutilados também diminuíram, mas podem voltar com tudo. “C’est la vie”! O lado “engraçado”, muito humano, é o efeito do medo da solidão antecipada e da morte anunciada. Haja Deus e adeus.

Apocalipse de plástico

No Facebook e WhatsApp chovem pedidos de namoro, casamento, filhos e aventuras. Gente que nunca se viu convidando para viagens, amizade ou coisa mais séria. Impressionante! Parece o fim do mundo, com as pessoas querendo realizar o “último desejo”. Querendo deixar um legado, heranças e descendentes. Gente projetando e pensando, agora, o que está longe ou pode nem acontecer.

 

Lança-Perfume

* Agora, ainda em homenagem ao domingo de tantas reflexões, um texto nostalgicamente anônimo, para todas as idades.

Um texto “bacana” principalmente porque muita gente, tomando cuidado e precauções, está longe dos pais e dos avós que, mais velhos, estão no grupo de risco preferencial do vírus.

O texto cai melhor ainda porque pais e mães costumam educar, mandar, cobrar, pegar no pé; enquanto os avós são pura alegria, carinho, atenção, mimos e diversão.

O nome do texto é: “Mãe, posso dormir na casa da vó e do vô, hoje?” Começa assim: “Escutei dentro do ônibus hoje de manhã”.

“Quando consegui me virar para ver a criança que me fez voltar ao passado apenas com uma frase, ela já não estava mais ao alcance dos meus olhos. Viajei longe”.

“Quando foi que o tempo passou e nos fez adultos cheios de prioridades chatas?”

“Lutamos todos os dias por alguma coisa que não sabemos se é o que realmente queremos, quando na verdade, casa de vó e vô é o que todo mundo precisaria pra ser feliz”.

“Casa de vó e vô é onde os ponteiros do relógio tiram férias junto com a gente e passam os minutos sem pressa de chegada”.

“Casa de vó e vô é onde uma simples macarronada e um pão caseiro ganham sabores diferentes, deliciosos”.

“Casa de vó e vô é onde uma inocente tarde pode durar uma eternidade de brincadeiras e fantasias”.

“Casa de vó e vô é onde os armários escondem roupas antigas e ferramentas misteriosas”.

“Casa de vó e vô é onde as caixas fechadas se tornam baús de tesouros secretos, prontos para serem desvendados”.

“Casa de vó e vô é onde os brinquedos raramente surgem prontos, são todos inventados na hora”.

“Casa de vó e vô tudo é misteriosamente possível de acontecer. Mágico. Sem preocupações”.

“Casa de vó e vô é onde a gente encontra os restos da infância dos nossos pais e o início de nossas vidas”.

“Casa de vó e vô, só mesmo lá dentro, no endereço do nosso afeto mais profundo, tudo é permitido”.

“Esse luxo não pode me pertencer mais – infelizmente – viverá comigo apenas nas mais bonitas recordações”.

“Mesmo assim se eu pudesse fazer um pedido agora, qualquer pedido, de todos os pedidos do mundo eu iria pedir a mesma coisa”.

“Posso dormir na casa da vó e do vô hoje?”.