Dolce Vita | domingo, 15 de agosto de 2021
A Princesa, Dani Pereira. Foto: Edy Fernandes
O último imperador
A coluna de hoje não é sobre o filme, “O Último Imperador” (1987), de Bernardo Bertolucci, vencedor de nove Oscar. Nele, o diretor italiano conta a trágica vida de Pu Yi, o último imperador da China. Também não é propaganda da nova “Novela das Seis”, na Globo, "Nos Tempos do Imperador", que estreou dia 9. Não é publicidade, mas inspirada. Por mil motivos, há mil anos, não seguimos novelas da Globo.
O último moicano
O principal motivo, há muitos anos, é a péssima qualidade. E a Globo já fez maravilhas, principalmente em novelas de época e adaptações literárias. Mas, infelizmente, a TV acompanha o nível intelectual dos brasileiros, cada vez mais rasteiro. Agora, até poderia repetir os feitos, porque o personagem é dos mais interessantes. Infelizmente, o diretor não é Bertolucci (1941-2018) e trata de “escolhas e sacrifícios. Desafios, conquistas, batalhas, vitórias, derrotas. E, claro, grandes paixões".
O último brasileiro
Esperamos queimar a língua e os dedos, mas adivinhamos um desperdício anunciado, como entenderão a seguir, porque o personagem principal é também o maior e melhor da História do Brasil, nosso último imperador, D. Pedro II. Ah! “Nos Tempos do Imperador” também é a primeira novela totalmente original desde o início da pandemia.
Brasileiro de verdade
Agora, o mais importante e o motivo desta homenagem: “Ambientada no Rio de Janeiro, a trama de época se desenvolve num Brasil que ainda busca sua identidade e acompanha momentos importantes da vida do Imperador D. Pedro II”. Pronto e ponto. Tomara que a novela mostre Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Bragança e Bourbon ou, simplesmente, D. Pedro II (Rio de Janeiro, 1825 - Paris, 1891).
Brasileiro perfeito
Torçamos por um D. Pedro II, não como mocinho ou galã, mas como o imperador, o estadista, o homem, o brasileiro mais importante do Brasil, sem citar seu avô, D. João VI e seu pai, D. Pedro I. Somemos tudo e falemos, muito resumidamente, sobre o Mito. Amante dos livros, música e todas as Belas Artes, Pedro II conduziu o Brasil, com sabedoria, cultura, ciência, ética, amor e justiça, durante quase 50 anos coroado e 58 anos, reinando.
A Rainha, Luciana Simões. Foto: Edy Fernandes
Brasileiro eterno
Uma eternidade dentro de seus poucos 66 anos, ao “morrer de tristeza” fruto da ingratidão e do exílio. Foi provavelmente o primeiro ecologista do País Tropical, bonito por natureza. Moderno e humanista, sempre foi contra a escravidão, como seu pai, Pedro I e sua filha, Princesa Isabel, que acabou assinando a Lei Áurea em 1888. Outra longa, polêmica, trágica e complexa história.
Brasileiro austríaco
Tivéssemos alguém do quilate de Pedro II, hoje, seríamos monarquistas. Sobrou o respeito por este governante, sem igual, um homem fino, honrado, patriota e simples, que amou o Brasil acima de tudo; sua maior qualidade e mais grave “pecado”. Pedro II foi muito além da beleza física, com 1,90m, louro, olhos azuis, certamente herança de sua mãe austríaca, A Imperatriz Leopoldina. “Um Habsburgo dos Trópicos”.
Brasileiro português
A escola de samba, Imperatriz Leopoldinense é uma homenagem mais que justa à Maria Leopoldina, que morreu quando ele tinha apenas um ano, vítima de seu libidinoso, bruto e insaciável marido Pedro I. A longa barba sim, era de seu lado português. Daí, sua meta de vida, “europeizar” o Brasil, não etnicamente, mas com cultura e o progresso da tecnologia.
Brasileiro pioneiro
A primeira estrada de ferro foi construída com ele. O primeiro telégrafo. O primeiro telefone do Brasil estava sobre sua mesa de trabalho. Tudo fruto de sua amizade e admiração pelos grandes cientistas e intelectuais nos Estados Unidos e Europa. Poucos sabem, mas Pedro II estudou, falava 16 línguas, incluindo línguas mortas e até o tupi guarani.
Brasileiro ímpar
Foi também “botânico, antropólogo, astrônomo”, arqueólogo amador e excelente fotógrafo, registrando, em mais de 25 mil fotos, suas longas viagens mundo afora, como Egito; Cataratas do Niágara, as ruínas de Pompéia; todo o Brasil, incluindo a Amazônia e, claro, a França, país da Liberdade, dos Direitos Humanos e de sua amada Paris, em especial durante a destruidora Comuna de 1871.
Brasileiro eterno
“O Brasil é o país do meu coração, a França, da minha inteligência”, confessaria. E ops! Dom Pedro II, com certeza, foi o autor da primeira foto “selfie” do Brasil, quiçá do mundo! Pedro II, em Constituição adaptada, tornou-se imperador aos seis anos, coroado aos 16, depois que seu Pai, Pedro I, deixa um Brasil em suas pequenas mãos, para restaurar o reino português, sua herança principal, depois que a filha mais velha, Ana, de apenas 11 anos, foi destituída.
A Imperatriz, Mônica Fernanda. Foto: Edy Fernandes
Lança Perfume
*Dom Pedro II era um imperador democrata, quase republicano e até parlamentarista.
Nunca um ditador soberano; um imperador profundamente amoroso e preocupado com a Educação e a Saúde de seu povo, sem esquecer o respeito pelos índios, suas línguas, seus costumes e a já citada luta contra a escravidão.
Contra a escravidão e com a sanguinária Guerra do Paraguai, que arruinou as finanças do Brasil, começou seu fim, outra longa história que tentaremos resumir.
Mesmo quase perfeito, D. Pedro II enfrentou sérios problemas e conflitos. Viveu a glória e a desgraça do café e das guerras.
Com o café veio, finalmente, a riqueza e depois o problema das colheitas sem escravos. Com a Guerra do Paraguai, as conquistas que provocaram sua queda.
Os fazendeiros o apoiavam, mas não a abolição, claro. Nos relatos da época, o pensamento era: como conseguir e pagar, da noite para o dia, pela mão de obra dos escravos libertos?
O Exército, ressentido, depois da vitória contra o Paraguai, sentiu-se traído e diminuído. Queriam mais recursos e reconhecimento.
Neste cenário, cresciam as ideias de “liberdade”, o positivismo francês, o federalismo norte-americano. E Pedro II no meio de republicanos, abolicionistas e escravocratas.
Teve até um “Adélio” que tentou assassinar Pedro II e radicais que queriam eliminar toda a Família Real, como fizeram na Rússia, com medo da reação do povo que amava o imperador.
Pedro II e família foram expulsos, deportados, às 3h da madrugada.
Toda a nobreza e realeza, principesca e imperial, da modelo Amanda Ford que, depois do tapete vermelho no Festival de Cannes, foi, como uma deusa do Olimpo, para suas férias em Mykonos, na Grécia. Foto: Divulgação/CO Assessoria
Recusou muito dinheiro para o exílio porque não era oficial, mas uma compensação do “amigo” Marechal Deodoro da Fonseca.
Aliás, Deodoro, adoentado, nem sabia o que estavam fazendo em seu nome, vítima de fofocas e mentiras, as “imperiais fake news”.
D. Pedro II, cansado, nem tentou resistir por temer um banho de sangue do povo. Saiu de mala e cuia, uma mão na frente outra atrás.
Viveu de favores de amigos e morreu pobre, em Paris.
Levou apenas um pouco de terra, embrulhada numa fronha. “Tesouro” achado, numa caixa com a seguinte mensagem.
“É terra do meu país, que seja posta em meu caixão, se eu morrer fora de minha Pátria”.
Além da mensagem, deixou um bilhete. “Deus que me conceda esses últimos desejos: paz e prosperidade para o Brasil”.
Até hoje o Brasil não conhece paz e prosperidade. Maldição, por ter assim tratado D. Pedro II?
Assim, o último imperador foi o primeiro e único!
PS: Conferimos o primeiro capítulo da nova novela, “Nos Tempos do Imperador”. Para não pouparmos a Nota “Sub Zero”, fiquemos na Nota Zero. Péssimo começo! Mataram D. Pedro II de novo.