Dolce Vita | domingo, 14 de março de 2021
Ana Elisa Murta, artista plástica que é, ela mesma, uma obra de arte. Foto: Odilon Araújo
As belas de Odilon
Retomando saborosa e artística parceria, as fotos de hoje levam a grife de Odilon Araújo, mestre inconteste de retratos em P&B. P&B de “Preto e Branco”, expressão que, por motivos de rima, Chico Buarque e Tom Jobim inverteram, criando mais um de seus poucos clássicos a quatro mãos, “Retrato em Branco e Preto”. Na canção, a confissão: “Vou colecionar mais um soneto, outro retrato em branco e preto, a maltratar meu coração”. Nas fotos de Odilon, a correção: “outro retrato em preto e branco, a acariciar meu coração”.
Sexo de sempre
Apesar do ridículo e anacrônico tabu, sexo é a saúde física e mental. Principalmente num período com tantas privações, sem perspectiva de acabar tão cedo. Sim, já vimos que muitos relacionamentos, se abalados e frágeis, aqueles nem tão sólidos, tiveram fim trágico nesta pandemia. Se um casamento por exemplo já não andava bem, com o confinamento forçado, mostrou-se ser um gigante e por que não, um anão com pés de barro. Desmoronou e, infelizmente, são muitos e vão continuar se desmanchando.
Sexo de hoje
Se no mesmo exemplo, nem a amizade salvou casamentos, imaginem o sexo. Este que, provavelmente já era raro ou nem mais existia, certamente foi o motivo a mais para tantos divórcios e/ou separações. A verdade é que, se o sexo continua tabu, ele é cheio de mistérios e, há muito, acontece das mais novas, diferentes e inusitadas formas. Definitivamente, os novos tempos são anormais e não precisam de vírus para mostrar sua estranha cara.
Sexo de amanhã
Pelos tortuosos caminhos da Internet e suas redes sociais ou antissociais, recebemos um texto de 2020, assinado por Matheus Mans. O autor trata de um tema que nem é tão novo, mas não para de evoluir em várias facetas. Estamos começando a escrever sobre as “sextechs”, empresas que inovam no setor erótico e, especialmente, de sexualidade.
Sexo de brinquedo
“São startups que, com brinquedos sexuais inteligentes, vibradores conectados e vendas digitais, buscam abocanhar fatias de um setor que teve valor mundial de US$29 bilhões em 2020”. Apesar do já citado tabu ao redor do tema, o mercado cresce de forma acelerada. Vá ver, este discreto consumo rima bem com o tabu, mantendo-o secreto, quase “obscuro objeto de desejos”.
Brinquedo de verdade
Nos EUA, a onda de “sextechs” ganhou altura em 2020. Começou forte antes da pandemia, com “startups”, do tipo MysteryVibe e Dame Products, ganhando os píncaros ao colocar no mercado esses brinquedos sexuais inteligentes, mais adaptados às necessidades das mulheres e que colocam o prazer feminino na rota dos prazeres da tecnologia.
Brinquedo rentável
Durante a pandemia, o crescimento foi exponencial, com crescimentos de 100% mensais. No Brasil, chega de forma acelerada, especialmente agora. “Segundo o Mercado Erótico - empresa que acompanha o setor - foram vendidos mais de um milhão de vibradores, aumento de 50% em relação ao mesmo período do ano passado. As vendas gerais do setor, em 2020, cresceram 4,12% em comparação com 2019”.
Brinquedo estranho
“Não podemos dizer que temos ‘sextechs’ estruturadas no Brasil”, diz Leilane Rosenbaum, pesquisadora de sexualidade. “No entanto, estamos tendo o mesmo movimento que vimos nos Estados Unidos em 2018: empresas tradicionais do setor ganhando corpo, deixando seus números mais robustos. Agora, abre espaço para um universo sexual mais inovador”.
Brinquedo contagioso
Agora sim, entramos no tema inicial desta coluna, falando de significativo estudo do Mercado Erótico sobre a sexualidade na pandemia. O mercado de ‘sextechs’ está embrionário, mas começando a se desenvolver. “Durante a pandemia do novo Coronavírus, surgiu série de iniciativas mais digitais e conectadas no mercado erótico, acelerando a digitalização de processos e de todo setor”.
A engenheira civil e empresária, Sâmara Merrigh, à frente da Wabi Desapegos. Foto: Odilon Araújo
Lança Perfume
*Ainda sobre as “sextechs”. No mercado, antes analógico, com raros casos bem sucedidos de “e-commerces”, vemos empreendedores se arriscando de diversas formas.
“Há bazares virtuais, vendas organizadas por WhatsApp e até mesmo ‘coaching’ via plataformas de vídeo para uma vida sexual mais saudável, conectada e inovadora”.
“O mercado está otimista porque as pessoas estão ociosas em casa e precisam inovar no relacionamento. Quem tem presença forte na internet e ‘delivery’ está se saindo bem durante a quarentena”.
“E projetam um crescimento anual até maior do que a projeção de 8,45%, já citada”.
“Um caso interessante é da empreendedora Silvana Aguiar, dona de uma boutique erótica no bairro Ipiranga, em São Paulo”.
“Antes da pandemia, a empresária tinha todos os seus ganhos concentrados em vendas físicas, na própria loja”.
“No entanto, quando se viu obrigada a fechar as portas por conta da quarentena, correu atrás de inovação. E gostou disso”.
“‘Abri um e-commerce e, em menos de dois dias, estava com tudo da minha loja catalogado. Depois, criei grupos no WhatsApp e no Facebook com clientes habituais’”.
“‘E uma amiga puxa outra. Acabou se tornando um ‘hub’ de vendas. No primeiro mês de quarentena, tinha igualado o faturamento. Agora, o digital já é maior’”.
Em texto mais recente, janeiro de 2021, no jornal espanhol, “El País”, o autor Itziar Matamoros, pergunta: o “sextech” é o sexo que praticaremos no futuro?
“Robôs idênticos a seu ídolo favorito, ou a seu ex amor, e aparelhos que fazem você sentir as carícias de uma forma cem por cento remota. A linha entre o sexo real e o virtual está condenada a desaparecer”.
“A união entre tecnologia e sexo nos permitirá em apenas uma ou duas décadas explorar universos íntimos ainda difíceis de imaginar”.
No passado, revistas; depois filmes em fita cassete e vídeos em site pornô. “Em 2045, um em cada cinco jovens fará sexo com um robô de forma habitual, dizem estudos”.
“Cientistas como Ian Pearson vão mais longe e garantem que, a essa altura, serão mais frequentes as relações sexuais entre humano e androide (ou ginoide, quando têm a aparência de mulher) do que entre pessoas”.
No Japão, estão quase lá.
“O sexo de amanhã será cada vez mais tecnológico, mas não só porque se popularizarão os bonecos com formato humanoide equipados com Inteligência Artificial e sistemas operacionais sofisticados”.
“Teremos também a possibilidade de acariciar nosso par mesmo que esteja a centenas de quilômetros de distância, imprimir em 3D uma réplica exata dos órgãos genitais de outro ser humano”.
“E depois coordenar seus movimentos com um aplicativo móvel ou utilizar tecnologia que nos faz sentir em nosso próprio corpo o orgasmo de várias pessoas simultaneamente”.
Tomara que 2045 demore a chegar. Isso, se já não chegou, disfarçado de vírus...