Dolce Vita | domingo, 13 de setembro de 2020

“Le Rouge et le Noir” de Amélia Ávila e Laís Cruz

Foto: Edy Fernandes

Flores do Mal

Como não se cansa de falar, de escrever, lembrar e alertar nossa querida “prima”, a psicanalista e escritora vedete Regina Navarro Lins: “A maior propaganda do Ocidente não é a Coca-Cola, é o Amor Romântico”. Não à toa e por acaso, essa frase lembra aquela outra, atribuída ao francês Charles Baudelaire (1821-1867), quase um dito popular: “O truque mais esperto do Diabo é convencer-nos de que ele não existe”. Ou seja, o truque mais ardiloso do amor romântico é convencer-nos que ele existe.

Flores carnívoras

O mesmo Baudelaire que desabafava: “O mais irritante no amor é que se trata do tipo de crime que exige um cúmplice”. Voltando e resumindo Regina, sua definição: “Amor romântico: o mais desejado. Nascemos reféns de seu feitiço e passamos a vida idealizando a vida a dois… Será ainda assim? O amor romântico dá sinais de estar saindo de cena e assistimos despontar novos tipos de relacionamento”. Será? Sim!

“Le Rouge” de Fernanda Diniz

Foto: Edy Fernandes

Flores de plástico

A autora de “A Cama na Varanda” e “O Livro do Amor” continua: “É possível encontrar o amor em qualquer lugar, até no Tinder, principalmente a pessoa que é regida pelo mito do amor romântico, que é calcado na idealização. Essa pessoa atribui características ao outro que o outro não possui. Se ela se casa, passa o resto da vida infernizando o outro para que se enquadre nessas características que ela inventou. Ou seja, é possível inventar uma pessoa. Nós, ocidentais, amamos estar amando, nos apaixonamos pela paixão muito mais do que por alguém em especial”.

Flores da temporada

Depois desta leve introdução de chumbo, gostaríamos de completar com um texto enviado pela jornalista Jéssica Leiras, com um tema da Casa do Saber Rio: “O amor é possível no isolamento – Uma discussão sobre modelos de relacionamentos e afetividade em tempo de pandemia. Em um mundo polarizado e em isolamento social por causa da pandemia do novo coronavírus, há espaço para falar de amor?”

“Le Blanc” de Patrícia Azeredo Coutinho

Foto: Edy Fernandes

Flores do Amor

“Sim”, responde Ieda Tucherman, doutora em comunicação e professora titular do Programa de Pesquisa e Pós-Graduação da Escola de Comunicação da UFRJ. “Como teriam sido escritas as lindas cartas de amor se não houvesse distância, qualquer que fosse a razão?”. Divagando sobre “Uma história do amor: o que ainda temos a dizer”, Ieda dará curso online na Casa do Saber Rio (http://rj.casadosaber.com.br/), a partir do dia 17.

Flores comestíveis

Na pauta, ou no cardápio “canibal”: amor e religião, o mito da cara-metade e amores múltiplos. E adianta uma conclusão pessoal: “Se for do bem, todo amor é festejável”. Em entrevista Ieda Tucherman segue o jogo: “Pandemia e isolamento social permitem, sim, falar de amor. Podemos dizer que o amor sabe inventar e usar as formas de comunicação possíveis: quantos romances falam dos sentimentos de saudades?” E repete, enfatiza: “Como teriam sido escritas as lindas cartas de amor, à distância, qualquer que fosse a razão: guerra, imigração, peste etc.?”.

O chef Cristiano Campos, com Magda Carvalho, no paraíso O Italiano

Foto: Arquivo Pessoal

Flores sensíveis

Sobre se amor e ódio como os sentimentos que movem o mundo e as letras, Ieda Tucherman concorda, mas lembra que não são os únicos: esperança e medo, curiosidade, desejo e memória, não se opõem ao amor e ao ódio, participam do jogo. E que a religião não é uma barreira para o amor, porque a palavra “religião” vem de “religare”, que significa tornar comum, e “pode ser, em si mesma, uma forma de amor. Fanatismo, sim, é uma barreira para o amor porque se alimenta, principalmente, do ódio”.

Flores amorosas

É preciso dizer “eu te amo”? Ieda responde: “Roland Barthes brinca no seu lindo livro, ‘Fragmentos do discurso amoroso’ que o primeiro que diz ‘eu te amo’ é quase um covarde: o outro só pode responder eu também ou eu não. Se torna um passivo. Dizer ‘eu te amo’ é uma forma de ser ativo, assumindo para si e para o outro a existência nova de um sujeito apaixonado”. Daí a genialidade de outro francês, Serge Gainsbourg (1928-1991), no título de seu clássico: “Je t’aime, moi non plus”; ou seja: “Eu te amo, nem eu”. Ou “Eu também não”. Ou “Não mais que você”.

Flores festejáveis

Amor real ou virtual? Amor romântico ou poliamor? Qualquer maneira de amor vale a pena? Neste capítulo, Ieda pensa como alguns filósofos, como Espinosa, que concordariam com nossos músicos populares; toda forma de amor que aumente a potência de sentir e perceber o mundo e as pessoas vale super a pena. Não é desejável, e isto é uma posição pessoal, o amor que vitimiza, que escraviza, que maltrata. Se for do bem, todo amor é festejável.

Lança-Perfume

* Em nossa humilde e vulgar opinião, o buraco é, literalmente, mais embaixo ou abaixo. Às vezes nem é mais buraco, foi soterrado e fechado, voluntariamente.

Não precisamos de pandemia e isolamento para uma evidência: há muito, o amor não é mais romântico, nem sexual. Muitas vezes não é nem mesmo amor.

Há muito, as pessoas andam sorumbáticas, sozinhas, solitárias, desconfiadas e descrentes, não só do amor, mas de qualquer forma de relacionamento.

Os homens mais jovens podem até manter, guardar um pouco de seu instinto predador e espalhador de genes, ainda que com a ajuda do Viagra e similares.

Mas as mulheres, com raras exceções, depois de cumprirem as normas da sociedade e da natureza – casar, ter e criar filhos – querem mais é fugir de confusão (relacionamentos).

Geralmente, são as independentes, bem-sucedidas profissionalmente que, assim, não dependem do dinheiro do marido. Cumpriram seu papel, agora querem é paz e curtir a vida adoidado, como os homens!

Mas como poderão ver a seguir, o ser humano não desiste. Mesmo com 1001 exemplos, insistem na tradição e na idealização do amor romântico.

* Conta-nos Magda Carvalho, relações públicas de O Italiano Restaurante: “Esta pós-quarentena tem sido marcada pela corrida ao altar! ‘Mini wedding’ é a palavra do momento: a celebração da união em ‘petit comité’, reunindo apenas família e, às vezes, amigos muito próximos”.

“Foram muitos os sonhos adiados, mas nem por isso cancelados, ou menos comemorados, agora, porém, somente entre os muito íntimos. “O que resulta, em muitos casos, no cuidado com os mínimos detalhes: sofisticação sem ostentação. O amor voltou a reinar! Família em primeiro lugar!”.

“Setembro entra com a promessa de flores e amores. Com a agenda já quase lotada até dezembro, por eventos dessa natureza, está O Italiano Restaurante”. O cenário ajuda: “uma área aberta e arborizada ideal para comemorações privadas: aniversários, ‘mini weddings’, renovação de votos, corporativos”.

Além do ar romântico, uma grande vantagem no pós-pandemia: mesas em local aberto, à sombra de imponente flamboyant ou de frondosa paineira. Cenário de comédia romântica americana: charme, segurança e elegância.