Dolce Vita | domingo, 10 de outubro de 2021

Abrindo a primavera, com apetite, cores e sabores, no Belvedere, a Festa Pool Party Nouveau. Foto: Arquivo pessoal

Horas escuras

Há mais ou menos um mês, “loucos, com carradas de razão”, empresários da noite, donos de bares e restaurantes, lamentavam a rígida lei que impedia o funcionamento de seus negócios depois das 23h. OK! O novo prazo, mais tolerante, é 01h00, uma da madrugada. A pandemia foi e continua dura. Leis vêm e vão. Quando tudo passar e for avaliado, reavaliado, saberemos quem tinha razão e mais, se as drásticas medidas surtiram o efeito esperado, o de deter a doença.

Horas tenebrosas

Bares e restaurantes perdiam clientes, principalmente os jovens que lotam espaços madrugada adentro e afora. Para o público mais velho, nada mais natural do que esticar um jantar, pelo menos até a meia noite quando saciada a fome; depois de drinques e vinhos, a noite fica mais animada, mais social e descontraída. Um jantar fora de casa não é um programa automático, onde as pessoas têm hora marcada e delimitada.

Horas vertiginosas

Ainda bem que desapertaram o cinto. Ninguém decide no relógio a que horas começam os drinques e entradas, quando deve ser servido o prato principal, muito menos cronometra o tempo e as garrafas que encerram a noitada. Um jantar sempre foi gastronomia com entretenimento e socialização, diversão e confraternização. Regras e leis, num evento tão informal, matavam a natureza do mesmo no berço.

Horas perigosas

O panorama e o prejuízo pioravam com o fantasma das multas. O problema não parava nos clientes. Os funcionários, antes das 23h, precisavam “arrumar a casa”, recolher mesas. Mesmo terminando a noite mais cedo que de costume, não tinham como voltar para casa, já que os ônibus também paravam de circular. Muitos, certamente a maioria, não usam apenas um ônibus do trabalho à casa. Pelo contrário, são dois, três e por aí vai. Ou ia! Ônibus também voltaram aos horários civilizados.

Horas melindrosas

No começo da pandemia, desesperados empresários levavam, pessoalmente, seus funcionários para casa. O que já é um sacrifício e enorme prejuízo, mesmo quando eram poucos. Se muitos, apelava-se para o Uber ou vans. Bom para o funcionário, péssimo para o patrão. Acontece que, quando o patrão não vai bem, sobra para o funcionário, que vê cortes salariais ou a simples demissão, em caso de contenção de gastos ou falência do estabelecimento.

 

Na mesma festa na piscina, vejam o que o Titanic perdeu: Janaína Barcelos. Foto: Arquivo pessoal

Horas gostosas

Inútil chorar o leite derramado. Mais fácil virar a página, agir, lembrar e praticar a máxima de que a necessidade é a mãe da criatividade. Ora bolas! Mesmo com a volta da normalidade, bares e restaurantes podem funcionar com mais intensidade e otimização. Dica grátis! Empresários precisam aprender a “fazer com” e “apesar de”. Parece que nunca ouviram falar em “happy hour”!

Horas apetitosas

Vamos passear no Google? Dizem as interessantes línguas “que a expressão ‘happy hour’ surgiu na década de 20, nos Estados Unidos e se espalhou para outros países, como o Brasil e é bastante comum em bares e restaurantes, que fazem promoções, permitindo que os clientes ganhem bebidas de graça ou tenham descontos em bebidas e coquetéis. Muitas vezes petiscos são oferecidos”.

Horas felizes

No site do hotel Hilton São Paulo Morumbi aprendemos mais. “Não à toa, a tradução de ‘happy hour” é “hora feliz”. A comemoração entre colegas de trabalho após um dia cheio é uma das atividades sociais mais queridas dos profissionais. Em geral essa comemoração acontece depois do trabalho, sendo comum o consumo de petiscos e bebidas alcoólicas”.

Horas históricas

A origem tem três versões. No antigo Egito, dos faraós, os trabalhadores (escravos?) nas pirâmides eram recompensados com uma caneca de cerveja ao final do expediente. A segunda versão é atrelada à Marinha norte-americana. Para evitar baixas e elevar o moral dos marinheiros era liberado um tempo de entretenimento a bordo de um navio, no qual eram organizadas lutas de boxe ou luta livre.

Horas clandestinas

A terceira tem como origem os mesmos Estados Unidos nos anos 20. O consumo e a venda de bebidas alcoólicas eram proibidos, durante a famosa Lei Seca, que conhecemos muito bem. Os cidadãos de classes mais altas frequentavam “cocktail hours” ou “happy hours” em estabelecimentos clandestinos ou casas particulares, antes de jantarem em restaurantes, onde as bebidas alcoólicas eram proibidas.

Horas desperdiçadas

Na prática, depois de tanta história, o “happy hour” servia mesmo era para incrementar os negócios. De tal a tal hora, dependendo do lugar e do público, o chope saía pela metade do preço ou pagava-se por um drinque e bebia-se dois. Assim, o freguês sentia-se estimulado a frequentar os bares em horários menos concorridos. Na Europa, sempre funcionou, no Brasil, a “Lei de Gérson” inibiu a perfeita estratégia.

No mesmo paraíso aquático, olhem que coisa mais linda, mais cheia de graça, Ludmila Custódio. Foto: Arquivo pessoal

Lança Perfume

*O tema merece continuação e profundidade. Mexe com a saúde mental e a combalida Economia da cidade.

Como a “Lei de Gérson, a vantagem e o jeitinho” inibiram a “happy hour”?

Muito simples. Os estabelecimentos não cumpriam as regras ou limitavam as promoções, o que mostrou-se um grande erro.

Sabe-se que, mesmo com moderação, “embriagados motivados pelo bolso e pelo álcool” tendem a continuar bebendo mesmo depois do "happy hour”.

Em BH, simplesmente, não lembramos quando já pagamos um chope e ganhamos outro, quando uma dose de uísque saía pela metade do preço.

*Mineiros, brasileiros não gostam de pagar menos, mesmo tendo que chegar mais cedo ao bar? Pouco provável. O pessoal mais velho já fazia isso naturalmente.

Parece que o mineiro não aprovou, principalmente os que trabalham perto de casa.

Preferem, antes da balada, trocar de roupa, pentear o cabelo, passar um perfume, etc., contrariando a natureza do “happy hour”.

No Rio de Janeiro, o lindo centro histórico e a Lapa que, durante décadas, eram desertos depois das 18h e nos fins de semana, revitalizaram-se ao descobrir a “happy hour”.

Em Nova York, as pessoas saem do trabalho e vão direto para o “happy hour”. As mulheres não passam em casa, não se empetecam com maquiagem e salto alto.

Um hábito normal e saudável, principalmente para a Economia. É nisso que empresários e público de BH precisam apostar, arriscar. Quem não arrisca…

No mesmo éden, "o pecado boia ao lado", com o transatlântico de luxo, Tamara Kehrwald. Foto: Arquivo pessoal

Uma rara exceção é a “região exceção em tudo” de BH/Nova Lima, o Belvedere.

E ainda improvisam. Lotam os lugares, não só vestindo roupa de trabalho, mas esportiva; de caminhada, corrida e academia. Um charme a mais.

Por isso, aquela ilha de BH e Nova Lima, mais “praiana” e informal, é outra história e com final feliz.

OK! A Lei Seca atrapalha? Uber e táxi nela! Não quer pagar transporte? Comece a incentivar o lazer de proximidade, frequente os bares de bairro, perto de casa.

Isso vai salvar a sociabilidade, a pátria e a lavoura do comércio, dos empregos e do lazer.

Mas cada um deve fazer sua parte, usando a palavra da moda, desde 2020: reinvenção.

Bares e restaurantes precisam oferecer “happy hour” com descontos de verdade. As pessoas precisam adaptar suas vidas, em novos e bem vindos hábitos.

Pronto. Já é uma ideia, um começo. Basta pôr em prática.