Dolce Vita | domingo, 10 de janeiro de 2021

Nem lembrando de 2020, Isabela Guerra e Ana Terra Lima. Foto: Edy Fernandes

Ecos do caos

Na coluna de 30 de Dezembro de 2020 comentamos o congestionamento aéreo no sul da Bahia no dia pós-natal, com “overdose” de aviões rumo ao litoral. Aviões dando voltas no ar, esperando pista para aterrissar. Tudo isso na Costa Sul da Bahia: Porto Seguro, Trancoso (Terravista), Ilha de Comandatuba e Ilhéus. A “revoada” causou, inclusive, a suspensão dos pousos devido à falta de espaço no pátio.

Ecos da desordem

As aeronaves foram instruídas a aguardar em órbita e, quando pousassem, podiam apenas desembarcar os passageiros, abastecer, se necessário, e decolar novamente. Agora, já temos além da confirmação, depoimentos deste “fim do mundo” tropical, quando aeroportos de e para ricos tiveram momentos de rodoviária. Como quando, no fim do ano e/ou outros feriados, transformam-se em formigueiro, caos e desordem.

Ecos da bagunça

Em áudio enviado por WhatsApp, passageiro de um destes aviões desabafou, aliviado e estressado: “Aqui em Porto Seguro, conseguimos descer porque o piloto bronqueou, inventou, mentiu para a torre, dizendo estar sem combustível para ir até Ilhéus. E isso não aconteceu apenas com a gente. Tinha muita gente na mesma situação. Agora, chega aqui, não tem como sair”.

Já bem longe de 2020, Giselle Said. Foto: Edy Fernandes

Ecos do absurdo

“Não tem helicóptero. Tentando alugar carro, não tem carro. Tentando um táxi, não tem táxi. Caos, loucura, bem que avisaram”. Resumindo e explicando, muitos jatos fretados e jatinhos particulares não conseguiram aterrissar em Porto Seguro, mirando o fim de ano em Trancoso e Arraial d’Ajuda, por causa do aeroporto congestionado. E quem conseguiu não tinha como seguir viagem e passou horas no aeroporto “a ver navios”.

Ecos do Brasil

Agora, detalhe. Existem projetos para a expansão do aeroporto de Porto Seguro, que alavancariam ainda mais o turismo neste paraíso, mas não saem do papel. Inclusive e por isso mesmo, muitos voos internacionais foram inviabilizados pela pista pequena. Por fim, isso, na pandemia, que prendeu muitos brasileiros ricos no Brasil. Gente que nem gosta do Nordeste, mas que não pôde viajar para o inverno dos Estados Unidos ou Europeu.

Ecos do normal

Já em 2019, com este colunista como testemunha, esta época, mesmo sem pandemia, já se mostrara caótica. Simplesmente por não oferecer infraestrutura básica para longos feriados e excesso de visitantes. Falta tudo! Ruas pequenas, sujas, insalubres; calçadas estreitas, multidão, falta de ordem, logística e bom senso. Congestionamento no céu e na terra, forçando os turistas a caminharem e, claro, lotarem também as praias, entrando e saindo dos hotéis.

Ecos do abismo

Esta vírgula, este pequeno detalhe, mostra como o Brasil está séculos atrasado na rentável e sustentável Indústria do Turismo. Resorts no exterior, em sua grande maioria, são paraísos, no Brasil, com raras exceções, viram um “Piscinão de Ramos”, sem preconceito OK? Porque mesmo o “Piscinão de Ramos”, com ordem e infraestrutura, com certeza seria um espaço muito mais agradável e não uma caixa d'água cercada de nada.

Ecos do inominável

Reza a sabedoria que idiotas, egoístas e sádicos só aprendem no sofrimento; quando o malho é na própria pele. Engasgando de rir, perguntamos: Para que servem jatos e jatinhos quando eles não têm onde aterrissar? Responsabilidade e culpa dos próprios ricos, poderosos e autoridades, sempre acostumados com o delicioso ir e vir sem problemas. Aglomeração, congestionamento e transporte de gado é para os pobres. Mas e quando as consequências da miséria atingem os milionários?

Esnobando e sobrevivendo a 2020, Izabela Pires. Foto: Edy Fernandes

Lança Perfume

*O tema é bom e propício. Merece mais algumas reflexões. No “antigo normal”, não havia problema para quem tem dinheiro. “Se não tinham pão, comiam brioche”.

Mas como “comer brioche, sem o forno”?

Vejam aqui mesmo em Minas, Tiradentes, antes da Covid-19, cidade dos prazeres, protegida contra ônibus e suas “hordas selvagens”.

Antes da pandemia, com seus 1001 eventos, durante todo o ano, a falta de infraestrutura para receber milhares de turistas já era evidente.

A que servem hotéis e pousadas, bares e restaurantes de luxo em ruas de pedra, pequenas e seculares, lotadas de gente fina?

OK. A ganância e a mesma estupidez acontecem em outros países, como a Itália.

Veneza sofre, em todos os sentidos, com os milhões de turistas o ano inteiro. Na bela cidade, cartão postal, sofrem os habitantes e o patrimônio com multidões selvagens.

É a maldição que ataca este tipo de cidade, cidades que, por serem lindas, preservadas e antigas, dependem 100% do turismo que “acaba” com elas.

Mas, na mesma Itália, na Toscana, as cidades mais procuradas acharam uma solução drástica. Proibiram a circulação de automóveis e ônibus em seus centros históricos. Pronto.

Os estacionamentos, nas cidades da Toscana, geralmente são caros e distantes dos hotéis. No mais e para quem tempo e saúde, transporte ferroviário e muita “sola de sapato”. Ou melhor, tênis.

Se ricos, poderosos e autoridades andassem de ônibus e viajassem de carro, o transporte seria digno; as estradas melhores e menos assassinas.

Isso serve também para hospitais, escolas e tudo que não funciona para o povo brasileiro.

Os privilegiados no Brasil até gostam de seus guetos, pequenas Suíças onde tudo funciona perfeitamente e na maior segurança, as gaiolas de ouro: shoppings, condomínios, bairros e até aeroportos particulares.

Salvo engano, Tom Jobim dizia que o Brasil só seria perfeito e justo quando todos pudessem morar em Ipanema. Mas até ele sabia que esta utopia era uma brincadeira.

Tem muita gente descobrindo o óbvio agora, que todos são iguais, mas uns são mais iguais que os outros. Que o sol nasce para todos, mas a sombra apenas para poucos.

Aeroportos de jatinhos congestionados como uma horrível rodoviária. Muito engraçado este aviso. Vamos para 2022?